Diêgo
Alves e Giovana Prates, comunicadores populares da ASA, Araçuaí – MG
Mobilização do Vale do
Jequitinhonha em Minas Gerais, alerta sobre perigos de mineroduto. | Foto:
Giovana Prates; trajeto de mais de
400km, que consumirá mais de 970 litros de água por segundo num
período de 25 anos.
Aguá vale
mais que minério. Com esse lema a cidade de Coronel Murta, no Vale do
Jequitinhonha, em Minas Gerais, através da Associação Beneficente de Itaporé
(Abita) recebeu a visita de muitas organizações e movimentos sociais que atuam
no Vale, como os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, Rede Cáritas, Pastoral do
Migrante, Comissão Pastoral da Terra, UFVJM, dentre outras, para debater as
relações entre os processos minerários e as propostas de uma reforma política
popular.
Esse
debate é uma das ações organizadas pelos Comitês Regionais do Plebiscito
Constituinte e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) para alertar a
população dos perigos por trás da vinda do mineroduto que vai utilizar a água
do Rio Jequitinhonha para transportar minérios de Grão Mogol, em Minas Gerais,
para Ilhéus, na Bahia. Um trajeto de mais de 400km, que consumirá
mais de 970 litros de água por segundo num período de 25 anos.
Para
Aline Ruas, representante do MAB, a vinda do mineroduto é fruto de vários
interesses econômicos e políticos entre grandes mineradoras (Sul-Americana de
Metais-SAM e Votorantim) e o governo de Minas, que classificou o projeto do
mineroduto como de utilidade pública. “Esse mineroduto faz parte do Bloco
8, um grande projeto de exploração de minério no Norte de Minas e Vale do
Jequitinhonha.
Isso gera
muita revolta porque a água não é utilizada para a agricultura familiar ou para
produção de alimentos, mas vai beneficiar o interesse dessas
grandes mineradoras e traz com isso impactos ambientais e sociais”. Ainda de
acordo com Aline, o processo, que traz mão-de-obra de fora, favorecerá a
exploração sexual, o aumento populacional, a degradação ambiental, a criação de
crateras, a desapropriação de terras e, consequente, a perda de identidade e
cultura das populações atingidas.
O debate,
que trouxe também como pauta o Plebiscito Popular do Sistema Político, provocou
a reflexão sobre a importância da água e de como o seu manejo pode significar
vida ou morte, dependendo que quem a utiliza e para quais fins. Momento em que
muitos agricultores familiares se colocaram a favor da preservação da água e da
vida. Foi exibido um vídeo sobre os impactos desastrosos causados pelo
mineroduto Minas-Rio, da Anglo American, em Conceição do Mato
Dentro – MG e em algumas cidades do estado do Rio de Janeiro.
Lideranças
comunitárias, representantes e dirigentes das organizações, alunos e
professores de Escolas Estaduais e da UFVJM, presentes, expressaram repúdio a
esse projeto do Mineroduto. Cirinéia Alves Jardim, aluna da Escola
Estadual Cel. Mariano Murta, diz que o Vale do Jequitinhonha tem esse nome, em
função do Rio Jequitinhonha, que atravessa Minas Gerais e vai até o mar na
Bahia.
Para ela
“o Vale depende desse rio para sua sobrevivência e com a vinda do mineroduto
temos ameaçado esse bem precioso, nós estudantes precisamos nos organizar e
impedir que isso aconteça”. O agricultor familiar Sebastião do Nascimento da
comunidade Laje em Coronel Murta avalia que “esse mineroduto é ruim e só vai
trazer mais tristeza pra nós.
A gente
já sofre com essa barragem e agora vem isso?”. E para “Cidona”, do Movimento
Sem Terra no Baixo Jequitinhonha, “o mineroduto é uma droga. Nós do
Jequitinhonha não podemos aceitar que as nossas poucas águas possam ir para
outro estado. Não aceitamos a exploração do minério, muitos menos o mineroduto.
Vamos nos formar, nos articular e gritar queremos Terra, Água e Educação,
mineroduto, não”, conclui.
A
plenária presente no debate, informada e sensibilizada pela ameaça do uso das
águas do Jequitinhonha pelas mineradoras, elaborou uma carta-documento a ser
entregue à Comissão das Águas–MG, presidida pelo deputado estadual Almir
Paraca, reivindicando demandas sociais levantadas no encontro.
Em ato
público pelas ruas e praças de Coronel Murta, instituições, escolas, movimentos
sociais, agricultores, agricultoras, assessores parlamentares, grupos de
mulheres e muitos jovens mostraram faixas e cartazes contrários ao mineroduto.
Músicas e muitos gritos de ordem foram ditos e cantados.
A
população foi aderindo ao ato e já às margens do Jequitinhonha foi possível,
apesar da falta de energia elétrica que impediu o uso de microfones, ouvir e
registrar o compromisso assumido com a população do Vale do Jequitinhonha pelo
deputado estadual Rogério Correia e pelo deputado federal Padre João, de fazer
uma audiência na Câmara Federal com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
(Ibama) e a Agência Nacional das Águas (ANA) para não consentir licenças para
implantação do mineroduto.
Compromissos
firmados, e ainda sob animação do Levante Popular, deu-se o encerramento do ato
público com a certeza de que a luta pela vida e preservação das águas do
Jequitinhonha está apenas no começo, haja vista a necessidade de organizar mais
momentos como este, para garantir que a sociedade fique de fato informada e
consciente de promover mudanças a partir da participação popular.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/
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