domingo, 12 de outubro de 2014

Intercâmbio incentiva boas práticas entre agricultoras e agricultores do Semiárido alagoano

Alinne Mirelle - Comunicadora popular da ASA; Santana do Ipanema – Alagoas; Seu Sebastião mostra propriedade onde cultiva frutíferas diversas paraagricultores/as. Foto: Alinne Mirelle

Deixar o trabalho do campo de lado e viver uma experiência rica em aprendizados. Foi o que fizeram agricultoras e agricultores de Major Isidoro e Minador do Negrão, que fazem parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

O intercâmbio aconteceu no município de Santana do Ipanema. Agricultor mostra sementes armazenadas em garrafas PET. | Foto: Alinne Mirelle

O sítio Cabaceiros no povoado Lage dos Barbosas há muito tempo virou referência quando o assunto é produção de sementes. A iniciativa exitosa na propriedade do agricultor Sebastião Rodrigues Damasceno e de Dona Ana Maria Alcântara é reconhecida nacional e internacionalmente.

 “Eu que só tenho o primário nunca imaginei sair daqui. Hoje posso dizer que já viajei para muitos lugares do Brasil e até Argentina, quando fui convidado para palestrar sobre as sementes”, conta o agricultor.

Em um cômodo da casa, a família guarda cerca de 50 variedades de sementes nativas entre feijão, fava e milho. O material é bem conservado.

“Utilizamos garrafas pet para armazenar, mas é importante não colocá-las diretamente no chão, por isso ficam em cima da madeira”, explica Sebastião. Desde o plantio à colheita, é necessária muita dedicação à separação do material. “Antigamente, plantava e colhia, mas não selecionava.

A partir do momento que passamos a fazer a seleção, agregamos valor e vendemos para vários estados do país. Tem que ter padrão e para isso é preciso colher no tempo certo. “Tudo isso dá um grande trabalho, e um grande prazer também”, explica aos visitantes.

 A sabedoria popular também é muito valorizada e praticada: plantas de raiz são plantadas na lua minguante, já as outras devem ser na lua nova e crescente.O agricultor faz um alerta quanto às sementes desconhecidas. 

“Cuidado com aquilo que você não conhece principalmente que vem de fora. Elas são como pessoas estranhas: você não pode simplesmente colocar dentro da sua casa e achar que vai dar tudo certo. Podem ser nocivas e causar desequilíbrio e outros males, por isso é fundamental conhecer a procedência, principalmente devido à transgenia”.

O vocabulário mais rico e técnico surpreendeu os visitantes e as visitantes, mas Sebastião tratou logo de esclarecer dúvidas e dar uma dica essencial para quem quer ser uma referência como ela e sua esposa. “É muito importante valorizar as oportunidades, participar dos encontros e aprender a ouvir. E mesmo eu não tendo muito estudo, valorizo muito o saber, pois isso ninguém pode lhe tirar depois que você o adquire.

 “Então prestem atenção e não fiquem com dúvidas”, aconselhou fazendo questão de frisar que todos e todas ali têm o mesmo potencial de conquista. Toda essa trajetória que orgulha a família teve início graças a uma barragem subterrânea que foi implementada há oito anos também pela ASA. Outros incentivos vieram dos encontros e capacitações que marido e mulher participaram.

O passeio na propriedade revela que a dedicação da família não se limita à produção de sementes. O cuidado com a preservação da natureza é a principal lei. Lá, não se queima lixo nem se mata animais e pássaros.

A diversidade – uma das principais características da sustentabilidade – impressiona: em uma tarefa de terra (3.052m²) é possível encontrar muitas fruteiras (pé de acerola, melancia, caju, manga, goiaba, banana, abacaxi, graviola, pinha, cacau, tomate, coqueiro, entre outros). 

Tudo adubado de forma orgânica, com esterco dos bovinos e sobra de alimentos em decomposição. A preservação da mata ciliar recebe atenção especial e o cenário que se contempla nada tem a ver com a imagem de terra seca. “Só temos isso aqui porque meu pai conservou. Estamos fazendo o mesmo para deixar isso para nossos netos e netas”, acrescenta Sebastião.

Entusiasmado com o que viu, o agricultor Antonio de França pretende replicar os ensinamentos em sua casa e com sua comunidade. “Foi ótimo, a paisagem é linda, o lugar é seco mas é fresco por causa da preservação da mata, e isso nos ensinou muito. As práticas são interessantes, pois ele não queima o mato, transforma em adubo.

Enfim, aprendi muita coisa. “Acho que todo mundo aqui aprendeu e vai fazer o mesmo em suas terras”, disse. Assim como ele, as participantes e os participantes do intercâmbio estão com as cisternas de segunda água implementadas e, portanto, buscam fortalecerem-se e ampliar sua produção rural. 

Os agricultores e agricultoras ainda ganharam e puderam adquirir algumas sementes. Mas, em consenso, a principal delas e mais produtiva foi a do conhecimento.

Fonte: http://www.asabrasil.org.br/                

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