Paula
Lanza, comunicadora popular da ASA; Almenara
– MG; Cerca de 20 mulheres se reúnem para realizarem as
atividades na associação. | Foto: Paula Lanza agonite, ponto cruz, patchwork e quilting; ários
artigos são realizados pelas mulheres como panos de prato, capas de almofada,
aventais, entre outros. | Foto: Paula Lanza
Símbolos da vida rural no Vale do Jequitinhonha, as casinhas
de pau-a-pique, a taboa, a luz do lampião, a fumaça do fogão a lenha, o rio, a
ponte, os pássaros e os pescadores são elementos recorrentes no trabalho de
artesãs da cidade mineira de Almenara, localizada a mais de 700 km de Belo
Horizonte. Juntas elas formam a Associação das Mulheres Criativas de Almenara.
Desde sua fundação, há 11 anos, o grupo mantém o mesmo objetivo: gerar renda
para famílias carentes e preservar a cultura regional.
Pelo
menos uma vez por semana, cerca de 20 mulheres se reúnem para costurarem
artigos diversos, como panos de prato, capas de almofada, aventais, colchas,
porta talheres, celulares, porta garrafas, colchonetes, vestidos infantis,
jogos de banheiro e de toalhas. Entre as técnicas utilizadas pra ornar os
produtos de artesanato estão o bordado, vagonite, ponto cruz, patchwork e
quilting.
Uma
determinação para a continuidade do projeto foi a de valorizar a cultura do
Vale do Jequitinhonha, seja por meio de palavras ou do artesanato em si.
"Toda vez que participamos de alguma feira, as pessoas pedem pra gente
contar a história do Vale, falar sobre a nossa realidade. E através de nosso
produto, mostramos a riqueza da região e o potencial do povo daqui. Contamos
nossas histórias com retalhos, agulha e linha", relata a atual presidente
da associação, Marinha Costa de Sousa.
Nos
outros dias, além dessas 20 e poucas associadas, mulheres adultas e
adolescentes interessadas em aprender as técnicas ou mesmo com vontade de
participar de uma atividade diferente e passar o tempo, são acolhidas
calorosamente. Essa atitude foi herdada das irmãs franciscanas, as criadoras da
associação e da casa em que funciona o projeto, o Centro Pastoral Padre
Valdir.
"Trabalhamos
com o espírito de sempre ajudar as pessoas. Se chega até nós uma mulher que
saiu do serviço por motivo de doença, ou se está em casa nervosa e depressiva,
nós temos a obrigação de recebê-la de braços abertos, confortá-la, ensiná-la as
técnicas, até que fique boa.
Se uma criança está dando trabalho na escola,
temos a obrigação de recebê-la e a deixar trabalhar com o que sentir vontade,
soltando a criatividade. As adolescentes em conflito com a lei também já
passaram por aqui. É essa a nossa obrigação! Trabalhar pra nós e pra
comunidade!", explica a presidente.
Um
exemplo de sucesso do projeto é a experiência de dona Eurides Ribeiro dos Reis.
Essa senhora cheia de energia e bondade já passou por diversos períodos em que
quase perdeu a esperança, incluindo o falecimento precoce de sua mãe e a
responsabilidade de cuidar de seus nove irmãos, o abandono da carreira de
professora por causa disso, e os problemas de saúde que a deixaram por longos
períodos no hospital.
Com
conhecimentos de costura aperfeiçoados desde os 12 anos de idade, ela logo
entrou para a associação já como monitora. "Sempre recebia convites para
participar, mas como estava sempre doente, não conseguia começar.
“Hoje,
isso aqui é a minha casa, e as colegas, a minha companhia quando meus netinhos
estão na escola”, declara a artesã, que tem os dias preenchidos pela alegria de
Vitória e Murilo, de 12 e 10 anos, que moram com ela. Assim, além de prover
renda para o sustento e a criação dos netos, a atividade também serve para
encher o guarda-roupa deles com peças feitas pela vovó coruja. Histórico de responsabilidade social:
O Centro Pastoral Padre Valdir abriga ainda
uma horta comunitária e a Associação das Crianças e Adolescentes Aprendizes da
Arte de Almenara (Criaarte) e, na época de sua inauguração, contava com uma
lavanderia comunitária e uma creche. O centro foi construído pelas irmãs
franciscanas após a grande enchente, em 1989, para acolher as pessoas
desabrigadas, fornecer alimento e facilitar a vida das lavadeiras, que muitas
vezes iam para o rio bem cedo e só retornavam no final da tarde.
"Ficaram
muitas pessoas jogadas na rua, as casas de pau a pique cobertas de capim e de
lama... Era uma pobreza muito grande. As mães iam para os rios lavar as roupas
da família e das casas para as quais trabalhavam, e os filhos ficavam soltos,
jogados, de casa em casa... Os homens trabalhavam na roça, às vezes iam pra São
Paulo, e as mulheres ficavam aqui sozinhas com as crianças, e os maridos no
mundo", recorda Marinha.
Nesse
contexto surgiu a necessidade de criar a Associação Comunitária das Mulheres
Criativas de Almenara. O objetivo foi juntar essas mulheres, que tinham
conhecimentos variados e promover a troca de ideias e experiências. "Umas
bordavam, outras desenhavam... Cada uma contribuía com o conhecimento que tinha
e as freiras com a matéria-prima: as linhas, os tecidos...”.
A
artesã, que integra a associação desde o início, também trabalhava na horta
comunitária e na creche, frequentada por suas cinco filhas. Enquanto o parceiro
ganhava o sustento da casa em uma lavoura de banana, próxima a Almenara,
Marinha começou a aprender o novo ofício, que se transformou em sua principal
atividade e fonte de renda. Artesanato como profissão:
Assim como dona Eurides e Marinha, que trabalhavam desde cedo na roça, realizando trabalho pesado e exaustivo, muitas mulheres também foram beneficiadas pelo projeto e hoje são talentosas costureiras. Outras deixaram de se ocupar somente com a manutenção da casa para se tornarem artesãs. É o caso de Zenailda Maria Alves Lima, a Zena, como é conhecida.
"Eu
nasci na roça e quando casei vim pra cá. Só ficava em casa cuidando de menino,
cozinhando e fazendo faxina", relata. Zena entrou para a associação logo
no início, sem saber nada de costura. Segundo Marinha, hoje ela é "braço
forte" ali dentro. "Comecei devagarinho, com crochê, pontinhos,
depois evolui para o patchwork, o quilting... No início eu morria de medo de
pegar na máquina!", relembra aos risos.
De acordo
com as integrantes, essa mudança fortaleceu a presença da mulher em casa, na
contribuição com a renda; a presença delas na sociedade, fazendo com que
sobrasse tempo para que participassem mais da comunidade, sem perder a
identidade; e foi um antídoto para levantar a autoestima dessas mulheres.
"Nós fomos descobrindo os outros potenciais que tínhamos!", afirma
Marinha.
"Nem
precisa ganhar muito dinheiro. Só a felicidade que temos aqui justifica todas
as coisas. Quando estamos todas reunidas parecem passarinhos no pé de fruta. A
associação fortalece nosso círculo, nossa união. Uma das fundadoras mesmo
trazia o filho recém-nascido. Ele ficava aqui num cantinho enquanto a gente
trabalhava.
Ele foi
criado por nós e hoje nos ajuda a desenhar, a fazer as coisas. Os filhos
criados aqui hoje nos auxiliam com ideias, desenhos... Meu neto de 14 anos já
foi na feira, ficava orgulhoso em ajudar, ornamentar o estande. É muito bonito
isso, ensinar aos pequenos que só trabalhar pra ganhar muito dinheiro não traz
felicidade. Coisas simples “podem valer muito mais, como ajudar alguém”,
acrescenta.
Em
breve, os artigos de artesanato produzidos por elas estarão disponíveis também
no novo mercado municipal da Almenara. O aconchegante atelier das Mulheres
Criativas continuará funcionando no centro pastoral.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/
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