Todos os brasileiros, preocupados ou não com o tema da corrupção,
todas aquelas pessoas que durante a campanha presidencial e ainda hoje afirmam
e divulgam que o PT é mais corrupto que os demais partidos, deveriam se engajar
a partir de agora na luta pela reforma política, o caminho mais curto contra a
corrupção.
Encampar esta luta não é apenas repetir o que dizem os outros, é
entender o que ela representa, por quais caminhos pode ser feita, que pontos
devem ser defendidos dentro dela como imprescindíveis, o que já foi feito neste
sentido, e, principalmente, onde as boas iniciativas estão estagnadas, ou seja,
em quais mesas foram engavetadas e em nome de quais interesses.
Leva-nos a refletir os fatos e os processos que geraram, de uma só
vez, a prisão de vários empresários proprietários das maiores empreiteiras do
país, relacionados a um esquema de desvio de verbas da Petrobras, segundo as
denúncias, instalado na estatal desde os governos de FHC.
O problema não está apenas nos partidos, ou no governo, mas sim e
de forma mais determinante na manutenção do sistema econômico capitalista. Seus
representantes corrompem para garantir que a cada governo, seja ele qual for,
continuem ganhando cada vez mais e mais dinheiro e assegurando seus privilégios
de classe dominante.
Seus defensores estão disseminados em pontos estratégicos do
governo, Executivo, Legislativo e Judiciário. Lutar contra eles é um papel de
toda a sociedade, mas de nada adianta apenas esbravejar e apontar o dedo, é
necessário fiscalizar, acompanhar, cobrar no dia a dia.
O STF, por exemplo, começou a julgar desde o início deste ano, uma
ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), questionando exatamente a legitimidade de doações de pessoas
jurídicas para campanhas políticas, um dos maiores focos de corrupção, no
Brasil e no mundo.
Por que até hoje uma ação do interesse de toda a Nação ainda não
chegou ao fim? É fácil entender. Quando a votação chegou a seis a um, pelo fim
das doações de empresas, o ministro Gilmar Mendes pediu vista, na prática
adiando o julgamento por tempo indeterminado. Quanto tempo um ministro do
STF necessita para ler um processo de tamanha importância?
Não é preciso ser letrado nem ter mestrado em política para saber
que o custo cada vez maior que as campanhas representam para os candidatos,
partidos e sociedade é muito alto e que é imprescindível aprimorar as regras
para os próximos pleitos, sob pena de colocarmos em risco a democracia.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, um candidato
à Presidência da república necessita hoje de mais de R$ 300 milhões para se
eleger, um candidato ao governado tem que desembolsar perto de R$23 milhões.
Enquanto que para um senador se eleger ele precisa de gastar, em média, R$4
milhões. Que pessoas físicas têm esses montantes? A solução em sua maior parte vem por meio de doações de empresas, o que, obviamente, limita a independência de um mandato popular.
Nos últimos anos, a sociedade brasileira criou alguns mecanismos e tentativas de controle social sobre a ação do Estado. Graças à democracia e a esses mecanismos (sejam os institucionais, como os conselhos, sejam as organizações que monitoram o orçamento público de forma autônoma) os casos de corrupção estão sendo denunciados.
Entretanto, esse processo é paradoxal, pois promove a sensação de
que o Brasil é mais corrupto na democracia do que na ditadura. Sensação falsa
pois na ditadura não havia possibilidade de denúncia.
Ultimamente cabeças golpistas utilizam-se do tema corrupção como
motor para pregar a volta do regime militar. Durante os 21 anos de ditadura o
país não estava livre deste mal, mas comentar o assunto significava prisão ou
morte na certa.
Um dos coordenadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral
(MCCE), o advogado Luciano Santos, decidiu fazer um apelo aos cidadãos mais
conscientes para que ajudem a pressionar o ministro Gilmar Mendes a divulgar o
seu voto.
Quanto mais rápido isso acontecer, mais rápido o julgamento
chegará ao fim. Iniciativas do gênero, de incentivo ao papel fiscalizatório da
sociedade - que está sendo cumprido pelas milhares de pessoas que já assinaram
o abaixo assinado neste sentido na internet- são absolutamente louváveis e tudo
indica que passarão cada vez mais a acontecer. Só enfrentamos a corrupção com a
radicalização da democracia.
Não uma democracia que se estruture apenas na representação (via
processo eleitoral e partidos). Mas sim uma democracia que conjugue a questão
da representação com a democracia direta e a participativa.
A democracia direta é o direito que a população tem de decidir
sobre as grandes questões que lhe diz respeito. E neste momento decisivo de
nossa história política é imprescindível que a população participe de forma
direta da discussão da reforma política.Por, Chico Vigilante.
Fonte: www.brasil247.com
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