sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Agricultor como faz sua propriedade prosperar com tecnologias, inovações e criatividade

A primeira tecnologia de sua propriedade, ele conta, foi uma criação própria. É o que ele chama de pisterna, uma mistura de cisterna com piscina.

Núcleo de Comunicação - Projeto Semear; Aracaju | SE; O agricultor seu Alcides é um experimentador |Foto: Arquivo Projeto Semear

Falou em inovar, o agricultor, que também é experimentador, fica logo interessado. Adeptos da criação, os agricultores experimentadores estão sempre em busca de novas soluções para melhorar a convivência com o Semiárido. “É importante o agricultor experimentar.

“Assim é o agricultor agroecológico experimentador, ele tem que sempre se renovar, para trazer algo novo para sua família e deixar um legado para novas gerações”, diz Alcides Ferreira Santos, da comunidade de Monte Alegre, Semiárido sergipano. Quem entra em sua propriedade, na comunidade de Lagoa do Roçado, pode não acreditar que ele mora lá somente há um ano.

São várias as tecnologias que ele emprega.  O campo responde. Tem água, plantio, banco de sementes. Oitenta por cento do que ele e sua família se alimentam saem dali.

Como seu Alcides armazena água? A primeira tecnologia de sua propriedade, ele conta, foi uma criação própria. É o que ele chama de Cisterna, uma mistura de cisterna com piscina.

A construção é a mesma de uma piscina e serve para armazenar água de chuva, que é utilizada para a produção, afazeres domésticos, como limpar a casa e, até, para tomar banho. E não para por aí:

Em seguida ele recebeu uma cisterna calçadão, da ASA – Articulação no Semiárido, com capacidade de 52 mil litros. Preocupado em garantir a água da família, Alcides construiu, ao lado da cisterna, dois reservatórios para absorver a água que extrapola do calçadão, um deles com 16 mil litros e outro com 100 mil litros. A conexão entre eles se dá por meio de canos. “Já consegui encher as três”, conta orgulhoso.

Ainda é possível encontrar na propriedade uma barragem subterrânea, construída dentro do chão, em uma área de baixio. Duas orientações são importantes: é preciso saber a profundidade do local e se há extremidades de parede que podem segurar o barramento.

Para melhor aproveitar a água no plantio, evitando o desperdício, ele utiliza a técnica de gotejamento por meio de uma mangueira furada que goteja água na terra e molha as plantas.

Com garrafas plásticas amarradas nos pés de árvores frutíferas consegue molhá-las sem perder água, com furinhos na tampa do recipiente, fechado, de cabeça para baixo.  A saída do líquido pode ser controlada tanto na mangueira quanto na garrafa.

E por falar em plantios, é possível fazer experimentos também na hora de mexer com a terra. Alcides explica o que faz em sua propriedade: a dica é cavar o terreno, colocar 20% de matéria orgânica, cobrir com a terra que tirou e plantar hortaliças com cobertura de sabugos de milho – que ajudam a proteger o solo, não permitindo a incidência direta de sol, e contribuem para manter a umidade.

Além disso, ao se decompor, o sabugo de milho se transforma em um adubo orgânico “riquíssimo”, conta.  O plantio é consorciado o que, segundo Alcides, contribui para que uma planta proteja a outra contra insetos. “Foi um teste, uma experimentação. Eu sou um agricultor experimentador, vejo ideias e busco melhorá-las, adaptá-las”, diz.

Ao caminhar por sua propriedade, em meio às árvores frutíferas, com laranja, manga, caqui, pitanga, pinha, maracujá e siriguela, entre outras, é possível encontrar uma mandala com coentro, rúcula, tomate, cebolinha, alface. “Independentemente da tecnologia, o cuidado com a terra é sempre o mesmo”, explica o agricultor.

A mandala é uma tecnologia que consiste em uma estrutura desenvolvida por meio de figuras geométricas concêntricas, que lembram o sistema solar. Entre os aneis, é possível investir no consórcio de produção agrícola, enquanto no meio há uma espécie de reservatório circular que armazenar água de chuva para irrigar a produção, onde também é possível criar peixes e aves.

Se quiser deixar o sertão em busca de outra vida? Alcides é enfático: “Sair da Caatinga? Não. Nasci me criei aqui e meu sonho é continuar mostrando que no Semiárido é possível viver. 

É preciso que as pessoas se conscientizem para a importância da agroecologia. O caminho é o cuidado com a terra, plantar árvores, fazer reflorestamento, valorizar o que temos”, conclui.

Essas experiências foram sistematizadas por jovens integrantes do Projeto ComJovens – Formação de jovens comunicadores(as) e sistematizadores(as) do Alto Sertão Sergipano, realizado pelo Centro Dom José Brandão de Castro em parceria com o Programa Semear.

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