Fui candidato
seis vezes. Em 1982, fui o candidato a deputado mais votado do Partido dos
Trabalhadores, não eleito porque o partido não atingiu o quórum mínimo (o voto
então era vinculado; quem votava em deputado era obrigado a votar no governador
do mesmo partido, e vice-versa).
Fui eleito
deputado estadual constituinte gaúcho, com um mandato popular voltado
prioritariamente para os problemas
urbanos, habitação, participação social e popular, reforma urbana.
Depois, fui
mais quatro vezes candidato, mas como sempre digo brincando "o povo
(eleitor) não me quis mais”. Nem mesmo meus apoiadores mais próximos,
amigos/companheiros/família ‘guentavam’ minha insistência.
Eram
campanhas difíceis, mas bonitas, cheias de energia e sonhos. Em 1986, campanha
para a Constituinte, no meio de uma grande mobilização social, o hoje senador
Paim e eu rodamos o Rio Grande do Sul.
Eu dirigia
‘o velho fusquinha verde de guerra’ (eternizado por Paim numa cartilha na sua
campanha a senador), Paim era meu caroneiro. Parávamos nas casas de
companheiras/os, ou sindicalistas, ou padres, ou agentes de pastoral, nossa
base política, comíamos em suas casas, onde também fazíamos reuniões e debates.
Os recursos
para a campanha vinham do próprio bolso, de contribuições voluntárias de
apoiadores, ou de alguma promoção (jantas, rifas) entre amigos e militantes
(ano passado o então presidente do BANRISUL, Túlio Zamin, lamentou não ter
guardado o caderno onde anotava as contribuições como tesoureiro da campanha de
1986).
A vida e os
tempos mudaram. Hoje, um candidato como eu, vindo das lutas populares, morador
dos vilas populares da Lomba do Pinheiro, sem maiores articulações e conexões,
tem muita dificuldade de lançar uma candidatura com chances eleitorais. Como e
onde conseguir milhões para se se eleger? Como disse João Pedro Stédile, da
direção nacional do MST em entrevista à TV Brasil, "o poder econômico e
financeiro sequestrou o Parlamento”.
É preciso
mudar. Não se trata de voltar para o que já passou – os tempos são outros, hoje
há as mídias sociais, a relação do eleitor com seu representante tem elementos
da atualidade, etc. - mas de recuperar a política, os políticos, os partidos
para o seu sentido original: a relação com a pólis, a cidade, a sociedade, o
bem comum.
Por isso, a
reforma política, entre outras reformas, é a mais urgente e necessária. Sem uma
reforma política profunda será o caos, diz João Pedro Stédile. E continuaremos
vendo as notícias do caixa 2, da corrupção que se generaliza, dos mandatos
sequestrados pelo poder econômico, das obras públicas que só acontecem se
acompanhadas de propinas.
Na
sequência as investigações, seguidas de prisões e CPIs. Resultado: a degradação
da política na visão da sociedade, que identifica cada vez mais todos os
políticos como ladrões, o que não é verdade. O ministro Miguel Rossetto, da
Secretaria Geral da Presidência da República, disse, em reuniões com a
sociedade civil:
"É
preciso repensar a forma como as campanhas e os partidos são financiados no
nosso país, no sentido de fortalecer a capacidade de acompanhamento e de
fiscalização da sociedade sobre os eleitos. Nós acreditamos que as organizações
partidárias se deem através de grandes projetos ideológicos, das grandes
opiniões existentes na sociedade brasileira.
É importante a mobilização da sociedade civil
diante da urgência da reforma política. “O fim do financiamento privado aos
partidos e às campanhas eleitorais é decisivo para a democracia e a sociedade
brasileira.”
De acordo
com o ministro Rossetto, além do fim do financiamento privado de campanha, o
projeto da Coalizão pela Reforma Política Democrática tem como prioridades a
instituição do voto partidário no país, a adoção de uma política forte de
gênero.
Que estimule a maior participação das mulheres, além de um conjunto de
iniciativas que estimulem instrumentos de democracia direta como plebiscitos,
referendos e consultas populares.
Sem
reformas estruturantes, que mudem as regras do jogo, estabeleçam limites, o
modelo vigente se perpetua, porque não interessa mudar a quem é o dono da bola.
Luis Fernando Veríssimo escreveu em ‘Bolsos fundos’:
"Os maiores
interessados em que não vingue uma reforma eleitoral são os que têm acesso aos
bolsos mais fundos da nação, e têm mais a oferecer na defesa dos interesses dos
maiores pagadores” (O Globo, 12.03.15).
A sociedade
brasileira, como fez nas Diretas-Já e na Constituinte nos anos 1980, está se
mobilizando. Houve um Plebiscito Popular por uma Constituinte exclusiva pela
reforma política, com participação de quase oito milhões de eleitoras/es.
Há uma
Coalizão pela Reforma política democrática, recolhendo assinaturas para um
projeto de lei de iniciativa popular, com participação de centenas de entidades
da sociedade, como CNBB e OAB. Há uma Plataforma dos Movimentos sociais pela
Reforma política.
A cidadania
livre e consciente, a mobilização social e popular possa, sim, apontar para a
esperança e o futuro. E libertar a política, os partidos, os governos das
amarras dos sequestros políticos e da corrupção.
De novo, nas palavras de Veríssimo: "Claro que a simples existência
de uma lei para controlar a influência do dinheiro na política não vai impedir
que ela continue. Estamos, afinal, no país do dá-se um jeito. Mas só coibir e
criminalizar a farra já será um progresso.” É um longo caminho, mas não há
outra estrada a trilhar. A hora é agora. Selvino Heck.
Fonte: site.adital.com.br
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