O economista membro da
coordenação nacional do MST, João Pedro Stedile, esteve presente na primeira
conferência da 14ª Jornada de Agroecologia, abordando o movimento do Capital na
agricultura e suas consequências. Durante sua fala, Stedile avaliou que a defesa
da agroecologia é, não apenas uma preocupação em salvar o meio ambiente, mas um
embate econômico e político.
A necessidade de uma
transição agroecológica, para o militante, advém das características nocivas do
modelo do capital na agricultura, hoje conhecido como agronegócio. “É
justamente nas contradições desse modelo que está nossa esperança em uma adesão
crítica da sociedade como um todo para enfrentarmos a agricultura capitalista e
estabelecermos novas bases de produção, fundadas na agroecologia”, sinalizou.
Entre as contradições,
está a concentração de propriedade em pouco mais de cinqüenta grandes empresas multinacionais
presentes na agricultura e, por isso, um grande contingente de populações
afastado das riquezas ali produzidas. Por estarem nas mãos dessas empresas, as
riquezas geradas nas localidades são expatriadas, não permanecem na própria
região onde se produz.
“Vemos o exemplo de Irati,
onde acontece a 14ª Jornada de Agroecologia, em que a produção de fumo vê a
riqueza aqui gerada na região sendo levada para Londres pela Souza Cruz e
aumentando a acumulação de capitais dos acionistas de lá”, relata Stedile.
Além dessas
características econômicas, há sérias disfunções no meio ambiente causadas pelo
modelo atual, como a contaminação por venenos e a destruição da biodiversidade.
“O caso de São Paulo é emblemático: não falta água nas torneiras da cidade por
falta de chuva”. Chove e alaga.
“O problema é causado pelo
predomínio dos monocultivos do eucalipto e da cana-de-açúcar no entorno do
sistema hidrográfico de Cantareira, que altera todo o ecossistema local”,
alerta João Pedro Stedile. “Os venenos contaminam o ar, a água e até o leite
materno, o que tem aumentado o número de casos de câncer em 500 mil por ano”,
arremata.
Em sua intervenção,
Stedile enumerou as principais características do capitalismo na agricultura,
em tempos de domínio do capital financeiro: além da já citada concentração em
pouco mais de cinquenta multinacionais, estão a transformação da agricultura
num grande mercado mundial (produz-se alho na China para comer no Brasil, por
exemplo), a redivisão do trabalho mundial agrícola (sob o comando daquelas
mesmas cinqüenta empresas), a uniformização dos preços e a padronização dos
alimentos.
“Sob o risco de efeitos
incontroláveis na saúde das pessoas, a alimentação que no século passado estava
baseada em mais de 300 tipos de vegetais, hoje está reduzida a apenas cinco:
sorgo, trigo, milho, arroz e soja”, adverte o economista. Outra grande mudança
é a forma de produção nas unidades produtivas que, tendo o lucro como
norteador, está aprisionada a forma de cultivo em larga escala e sob uma matriz
tecnológica específica.
A matriz introduzida pela
chamada “revolução verde”, é baseada nos venenos, que eliminam a diversidade da
natureza em nome dos monocultivos, das sementes transgênicas (que aprisionam o
agricultor à empresa produtora de sementes e venenos específicos para cada
semente) e da mecanização, fundando uma agricultura sem agricultores.
Por fim, surge uma nova
classe no campo, formada por uma mescla de indivíduos capitalistas e capitais
dos diferentes ramos da economia, como, inclusive, a grande mídia (observe-se
que a Rede Globo é parte da Confederação Nacional da Agricultura – CNA – maior
entidade do agronegócio no país). No Brasil nos últimos anos, 4 milhões de
assalariados rurais migraram para favelas, “substituídos nas lavouras por venenos,
transgênicos e máquinas”.
“Tudo isso dificulta nossa
luta, mas a esperança militante se mantém acesa. Pois vemos do nosso lado o
Papa, que publicou uma encíclica dedicada à defesa explícita da ecologia, temos
a própria Natureza, que é contra as agressões e, mais recentemente o conjunto
da população urbana”, analisa Stedile. “A agroecologia não é uma luta dos
agricultores, mas da Humanidade”, conclui. Por Rafael Soriano
Fonte: MST
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