segunda-feira, 14 de setembro de 2015

“Antes, a água era verde, parecia um suco de limão”.

Foto: Por, Ubirajara Machado/MDS, Maria do Carmo Sabino, 76 anos, é uma sobrevivente das grandes secas tão comuns no Semiárido.

A agricultora familiar vive no município de Areial, no sertão paraibano, a 170 quilômetros de João Pessoa. A chuva que começa a cair já tem mudado o retrato da região. “No último mês, caiu uma garoazinha por três dias. 

Acredito que, aos poucos, vamos conseguir progredir e plantar cada vez mais”, conta dona Carminha, como é mais conhecida, que espera por um bom ‘inverno’ de chuva para os próximos meses.

Em 2014, a produção agrícola teve um reforço. A família recebeu uma cisterna de enxurrada para captação da água que apoia a produção de alimentos para a família e para os animais. “Do final de julho pra cá, já conseguimos ganhar R$ 200 com algumas batatas-doces e outras verduras que tiramos do nosso canteiro”, disse.

A cisterna de enxurrada aproveita o caminho que a água da chuva percorre quando cai na propriedade. Como uma enxurrada, a água é conduzida até um sistema de coleta composto por dois decantadores que filtram o excesso de terra e alguma sujeira.

Em seguida, toda a água é armazenada em um reservatório com capacidade de 52 mil litros, construído dentro da terra e só com a cobertura acima da superfície.

Das mais de 120 mil tecnologias sociais de apoio à produção entregues no Semiárido, cerca de 14 mil são cisternas de enxurrada. A Bahia é o estado com mais unidades deste tipo construídas (7,2 mil).

Água de qualidade – De 2012 para cá, com a cisterna de armazenamento de água da chuva para o consumo humano, a agricultora familiar deixou de conviver com água de baixa qualidade. “Antigamente, a água era verde, parecia um suco de limão, matava as plantas quase todas”, lembra.

A cisterna, com capacidade de armazenar 16 mil litros de água que cai no telhado da casinha simples da família, também tirou um peso das costas de dona Carminha. “Deixamos de andar muito para buscar água e de carregar peso no carrinho de mão”, diz, ao recordar que transportar água era um trabalho exclusivamente feminino.

A falta de água para o consumo é apenas uma das marcas da miséria que a agricultora passou durante a infância em Areial. 

“Já tive que comer facheiro (mandacaru) e xique-xique (cactus) para não passar fome”, se emociona a agricultora. Os cactus, tão comuns em toda a região, são utilizados exclusivamente para alimentar os animais. Hoje, a alimentação da família melhorou.

Com o dinheiro da aposentadoria do marido, Mauro Cardoso da Silva, 67, e os R$ 144 do programa Bolsa Família, dona Carminha garante a alimentação da família. “Hoje mesmo eu bati um prato de verdura com tomate que não está no gibi. 

Eu sou feliz porque eu como as coisas que eu planto”, conta. Quatro dos 12 filhos – todos de criação – ainda moram com o casal. “Os pais não davam conta de criar ou não queriam. Deus me livre deixar uma dessas crianças sem amparo.”

Dona Carminha, toda caprichosa e detalhista, é quem comanda a produção na propriedade. Tanto é que deu uma decoração especial à cisterna de água para consumo: 

construiu um jardim em volta do reservatório com flores e hortaliças, para aproveitar a umidade do solo. Seu Mauro só obedece e faz o trabalho mais pesado. “É ela quem manda”, brinca.

Fonte: Ascom/mds 

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