Por, Sueli Cunha Rodrigues.
Mais da metade das substâncias
usadas aqui é proibida em países da UE e nos EUA, Câmara aprova lei que
dispensa símbolo da transgenia em rótulos.
MARINA ROSSI São Paulo 30 ABR 2015 - 13:32; Arquivado em: Agricultura transgênica Substâncias tóxicas Agricultura ecológica Brasil Farmácia América do Sul América Latina América Agricultura Agroalimentação Medicina Alimentação Saúde
MARINA ROSSI São Paulo 30 ABR 2015 - 13:32; Arquivado em: Agricultura transgênica Substâncias tóxicas Agricultura ecológica Brasil Farmácia América do Sul América Latina América Agricultura Agroalimentação Medicina Alimentação Saúde
Imagine tomar um galão de
cinco litros de veneno a cada ano. É o que os brasileiros consomem de
agrotóxico anualmente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
"Os dados sobre o consumo dessas substâncias no Brasil são alarmantes", disse Karen Friedrich, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
"Os dados sobre o consumo dessas substâncias no Brasil são alarmantes", disse Karen Friedrich, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Desde 2008, o Brasil ocupa
o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Enquanto nos
últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse
crescimento foi de 190%, de acordo com dados divulgados pela ANVISA.
Segundo o Dossiê Abrasco - um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, publicado nesta terça-feira no Rio de Janeiro, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos.
Segundo o Dossiê Abrasco - um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, publicado nesta terça-feira no Rio de Janeiro, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos.
Desses, segundo a Anvisa,
28% contêm substâncias não autorizadas. "Isso sem contar os alimentos
processados, que são feitos a partir de grãos geneticamente modificados e
cheios dessas substâncias químicas", diz Friederich.
De acordo com ela, mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam, anualmente, 70.000 intoxicações agudas e crônicas.
De acordo com ela, mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam, anualmente, 70.000 intoxicações agudas e crônicas.
O uso dessas substâncias
está altamente associado à incidência de doenças como o câncer e outras
genéticas. Por causa da gravidade do problema, na semana passada.
O Ministério Público Federal enviou um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato.
O Ministério Público Federal enviou um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato.
A agência determine o banimento
desse herbicida no mercado nacional. Essa mesma substância acaba de ser
associada ao surgimento de câncer, segundo um estudo publicado em março deste
ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Ao mesmo tempo, o glifosato foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do IBAMA.
Juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Ao mesmo tempo, o glifosato foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do IBAMA.
Em resposta ao pedido do
Ministério Público, a Anvisa diz que em 2008 já havia determinado a reavaliação
do uso do glifosato e outras substâncias, impulsionada pelas pesquisas que as
associam à incidência de doenças na população.
Em nota, a Agência diz que naquele ano firmou um contrato com a Fiocruz para elaborar as notas técnicas para cada um dos ingredientes - 14, no total. A partir dessas notas, foi estabelecida uma ordem de análise dos ingredientes "de acordo com os indícios de toxicidade apontados pela Fiocruz e conforme a capacidade técnica da Agência".
Em nota, a Agência diz que naquele ano firmou um contrato com a Fiocruz para elaborar as notas técnicas para cada um dos ingredientes - 14, no total. A partir dessas notas, foi estabelecida uma ordem de análise dos ingredientes "de acordo com os indícios de toxicidade apontados pela Fiocruz e conforme a capacidade técnica da Agência".
Enquanto isso, essas
substâncias são vendidas e usadas livremente no Brasil. O 24D, por exemplo, é
um dos ingredientes do chamado 'agente laranja', que foi pulverizado pelos
Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, e que deixou sequelas em uma geração
de crianças que.
Ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. Essa substância tem seu uso permitido no Brasil e está sendo reavaliada pela Anvisa desde 2006. Ou seja, faz quase dez anos que ela está em análise inconclusa.
Ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. Essa substância tem seu uso permitido no Brasil e está sendo reavaliada pela Anvisa desde 2006. Ou seja, faz quase dez anos que ela está em análise inconclusa.
O que a Justiça pede é que
os ingredientes que estejam sendo revistos tenham o seu uso e comércio
suspensos até que os estudos sejam concluídos. Mas, embora comprovadamente
perigosos.
Existe uma barreira forte que protege a suspensão do uso dessas substâncias no Brasil. "O apelo econômico no Brasil é muito grande", diz Friedrich. "Há uma pressão muito forte da bancada ruralista e da indústria do agrotóxico também".
Existe uma barreira forte que protege a suspensão do uso dessas substâncias no Brasil. "O apelo econômico no Brasil é muito grande", diz Friedrich. "Há uma pressão muito forte da bancada ruralista e da indústria do agrotóxico também".
Fontes no Ministério
Público disseram ao EL PAÍS que, ainda que a Justiça determine a suspensão
desses ingredientes, eles só saem de circulação depois que os fabricantes
esgotam os estoques. MAIS INFORMAÇÕES; Brasil: o queijo da discórdia.
O que vamos comer amanhã? A agricultura salva novamente a economia brasileira; América Latina desperdiça 15% dos alimentos que produz; Um iogurte com poder para mudar a vida de uma comunidade rural; Como fazer com que os alimentos durem mais na geladeira; Uruguai poderá alimentar 50 milhões de pessoas.
O que vamos comer amanhã? A agricultura salva novamente a economia brasileira; América Latina desperdiça 15% dos alimentos que produz; Um iogurte com poder para mudar a vida de uma comunidade rural; Como fazer com que os alimentos durem mais na geladeira; Uruguai poderá alimentar 50 milhões de pessoas.
O consumo de alimentos
orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo, é uma
alternativa para se proteger dos agrotóxicos. Porém, ela ainda é pouco
acessível à maioria da população.
Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares. O produtor Rodrigo Valdetaro Bittencourt explica que o maior obstáculo para o cultivo desses alimentos livres de agrotóxicos é encontrar mão de obra.
Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares. O produtor Rodrigo Valdetaro Bittencourt explica que o maior obstáculo para o cultivo desses alimentos livres de agrotóxicos é encontrar mão de obra.
"Não é preciso nenhum maquinário ou
acessórios caros, mas é preciso ter gente para mexer na terra", diz. Ele
cultiva verduras e legumes em seu sítio em Juquitiba, na Grande São Paulo, com
o irmão e a mãe. Segundo ele, vale a pena gastar um pouco mais para comprar
esses alimentos.
Principalmente pelos ganhos em saúde. "O que você gasta a mais com os orgânicos, você vai economizar na farmácia em remédios", diz. Para ele, porém, a popularização desses alimentos e a acessibilidade ainda levarão uns 20 anos de briga para se equiparar aos produtos produzidos hoje com agrotóxico.
Principalmente pelos ganhos em saúde. "O que você gasta a mais com os orgânicos, você vai economizar na farmácia em remédios", diz. Para ele, porém, a popularização desses alimentos e a acessibilidade ainda levarão uns 20 anos de briga para se equiparar aos produtos produzidos hoje com agrotóxico.
Bittencourt vende seus
alimentos ao lado de outras três barracas no Largo da Batata, zona oeste da
cidade, às quartas-feiras. Para participar desse tipo de feira, é preciso se
inscrever junto à Prefeitura.
Que se apresente todas as documentações necessárias que comprovem a origem do produto. Segundo Bittencourt, há uma fiscalização, que esporadicamente aparece nas feiras para se certificar que os produtos de fato são orgânicos.
Que se apresente todas as documentações necessárias que comprovem a origem do produto. Segundo Bittencourt, há uma fiscalização, que esporadicamente aparece nas feiras para se certificar que os produtos de fato são orgânicos.
No mês passado, o prefeito
de São Paulo Fernando Haddad (PT) sancionou uma lei que obriga o uso de
produtos orgânicos ou de base agroecológica nas merendas das escolas
municipais. A nova norma, porém, não tem prazo para ser implementada e nem determina
o percentual que esses alimentos devem obedecer.
Segundo um levantamento da
Anvisa, o pimentão é a hortaliça mais contaminada por agrotóxicos (segundo a
Agência, 92% pimentões estudados estavam contaminados), seguido do morango
(63%).
Pepino (57%), alface (54%), cenoura (49%), abacaxi (32%), beterraba (32%) e mamão (30%). Há diversos estudos que apontam que alguma substâncias estão presentes, inclusive, no leite materno.
Pepino (57%), alface (54%), cenoura (49%), abacaxi (32%), beterraba (32%) e mamão (30%). Há diversos estudos que apontam que alguma substâncias estão presentes, inclusive, no leite materno.
No ano passado, a
pesquisadora norte-americana Stephanie Seneff, do MIT, apresentou um estudo
anunciando mais um dado alarmante: "Até 2025.
Uma a cada duas crianças nascerá autista", disse ela, que fez uma correlação entre o Roundup, o herbicida da Monsanto feito a base do glifosato, e o estímulo do surgimento de casos de autismo.
Uma a cada duas crianças nascerá autista", disse ela, que fez uma correlação entre o Roundup, o herbicida da Monsanto feito a base do glifosato, e o estímulo do surgimento de casos de autismo.
O glifosato, além de ser
usado como herbicida no Brasil, também é uma das substâncias oficialmente
usadas pelo governo norte-americano no Plano Colômbia, que há 15 anos
destina-se a combater as plantações de coca e maconha na Colômbia.
Em nota, a Anvisa afirmou que aguarda a publicação oficial do estudo realizado pela OMS, Inca e IARC para "determinar a ordem prioritária de análise dos agrotóxicos que demandarem a reavaliação".
Em nota, a Anvisa afirmou que aguarda a publicação oficial do estudo realizado pela OMS, Inca e IARC para "determinar a ordem prioritária de análise dos agrotóxicos que demandarem a reavaliação".
Os alimentos mais
contaminados pelos agrotóxicos; Em 2010, o mercado brasileiro de agrotóxicos
movimentou 7,3 bilhões de dólares e representou 19% do mercado global. Soja,
milho, algodão.
E a cana-de-açúcar representam 80% do total de vendas nesse setor. Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), essa é a lista da agricultura que mais consome agrotóxico:
E a cana-de-açúcar representam 80% do total de vendas nesse setor. Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), essa é a lista da agricultura que mais consome agrotóxico:
Soja (40%). Milho (15%). Cana-de-açúcar e algodão (10% cada);
Cítricos (7%); Café, trigo e arroz (3 cada%); Feijão (2%); Batata (1%); Tomate
(1%); Maçã (0,5%); Banana (0,2%); As demais culturas consumiram 3,3% do total
de 852,8 milhões de litros de agrotóxicos pulverizados nas lavouras
brasileiras em 2011.
Fonte: http://brasil.elpais.com
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