“Viemos aqui para dizer
que o Semiárido existe. Que nós existimos que conquistamos direitos e que não
vamos admitir nenhum direito a menos”. Ato Semiárido Vivo: Nenhum direito a
menos, 17/11/15. Ato Semiárido Vivo também reivindicou a democratização da
comunicação | Foto Ivan Cruz Jacaré\ Arquivo Asacom.
A Articulação Semiárida
Brasileira (ASA), como um espaço de articulação política da sociedade civil
organizada, nesses 16 anos de caminhada, vem contribuindo para modificar a
imagem estereotipada do Semiárido – comumente associada ao gado morto e terra
rachada – por uma imagem de uma região bela, forte, resiliente e cheia de
potencialidades.
No último dia 17 de
novembro, cerca de 20 mil pessoas construíram a maior mobilização no Brasil
após a Marcha das Margaridas, realizada no mês de agosto. Agricultores e
agricultoras, pescadores e pescadoras, indígenas, quilombolas e militantes de
movimentos e organizações sociais se reuniram nas cidades de Petrolina (PE) e
Juazeiro (BA).
As margens do Rio São
Francisco, no epicentro do Semiárido brasileiro, para defender uma pauta ampla
e diversa em torno dos direitos dos povos do campo, no ato “Semiárido Vivo:
Nenhum direito a menos”. Reivindicava-se ali, centralmente,.
A continuidade dos programas de convivência com o Semiárido executados pela ASA, o acesso das populações a terra e territórios, a permanência dos programas sociais e a revitalização do Rio São Francisco.
A continuidade dos programas de convivência com o Semiárido executados pela ASA, o acesso das populações a terra e territórios, a permanência dos programas sociais e a revitalização do Rio São Francisco.
Sendo esse um ato que
mobilizou tantas pessoas em torno de políticas públicas importantes para a vida
e o desenvolvimento da população da região, como os meios de comunicação
discutiram e pautaram o assunto? E tendo a mídia um importante papel na
informação da população, que contribui na formação de opinião da sociedade, e
que acompanha as ações do poder público e atua no monitoramento de suas
implementações.
Como abordou um ato
público que pautou políticas que impactam, direta ou indiretamente, na vida de
22,5 milhões de brasileiros e brasileiros que vivem na região, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).
Constatamos que houve silêncio completo da mídia hegemônica. Vinte mil pessoas na rua, lutando por seus direitos e não houve sequer uma nota em veículos nacionais tradicionais e poucas menções também nos meios de comunicação alternativos nacion.
Constatamos que houve silêncio completo da mídia hegemônica. Vinte mil pessoas na rua, lutando por seus direitos e não houve sequer uma nota em veículos nacionais tradicionais e poucas menções também nos meios de comunicação alternativos nacion.
O que esse silêncio nos
diz? Será que o estigma da invisibilidade que marcou o Semiárido por tanto
tempo ainda persiste como ranço dos coronéis da comunicação que não por
coincidência são também os coronéis da política? Historicamente a região
semiárida sempre foi vista – e retratada – pela grande mídia como um lugar
pobre, inóspito, miserável.
A mídia não reconhece quando
20 mil trabalhadores e trabalhadoras do campo vão às ruas em uma postura ativa
cobrar seus direitos, lutar por mais políticas públicas, prefere sempre se
deixar pautar pela estiagem procurando cenas de gado morto e chão rachado,
essas figuras sempre encontram espaço privilegiado nos noticiários regionais e
nacionais.
Em algumas regiões do
Semiárido brasileiro, 2015 já se encerra como o quinto ano consecutivo de seca,
porém não foi registrada nenhuma morte em consequência da estiagem, nenhum
saque e o êxodo rural não cresceu. A vida do povo do Semiárido melhorou.
Mas
isso não é pauta na mídia comercial. A comunicação no Brasil e no Semiárido
continua concentrada nas mãos de poucos grupos econômicos que ditam as pautas.
Aqueles que não pertencem aos grupos hegemônicos não têm direito à voz, não
expressam seus pensamentos, têm direito apenas de ouvir e ver.
Apesar desse silêncio da
mídia nacional, houve algum barulho na cobertura do ato “Semiárido Vivo: Nenhum
direito a menos”. Barulho, que consideramos aqui como as matérias publicadas
pelos meios de comunicação locais, no Vale do São Francisco.
Pouco mais de 50 matérias foram publicadas ou veiculadas, entre sites e portais de notícias, jornais impressos, rádios, TVs e blogs. Além dos conteúdos publicados e visibilizados pelas organizações e movimentos que organizaram e estiveram presentes na mobilização.
Pouco mais de 50 matérias foram publicadas ou veiculadas, entre sites e portais de notícias, jornais impressos, rádios, TVs e blogs. Além dos conteúdos publicados e visibilizados pelas organizações e movimentos que organizaram e estiveram presentes na mobilização.
Também chama atenção o grande fluxo de
conteúdos que circularam nas redes sociais sobre o ato. Como furar esse cerco? Os
grandes meios de comunicação, concentrados nas mãos de poucos, estão a serviço
de um projeto político que oprime e invisibiliza os povos do Semiárido.
Por
isso, acreditamos ser importante a democratização da comunicação para que as
pessoas reconheçam seu modo de falar, denunciem os conflitos e opressões e
anunciem as belezas, culturas e histórias vivenciadas em cada canto do
Semiárido brasileiro.
Democratizar a comunicação
é democratizar o sentido da vida, da luta e resistência das comunidades e dos
povos. No
caminho da luta pela democratização é preciso que mudança na forma das
concessões públicas de rádio e televisão.
A melhor distribuição da verba
publicitária governamental e a proibição da propriedade cruzada dos meios de
comunicação estejam entre as notas pautas. São necessárias mudanças na
legislação de comunicação para que consigamos avançar na conquista da
comunicação como direito. Para além das batalhas no campo institucional, o
incentivo a comunicação popular é essencial.
Quanto mais gente
produzindo comunicação popular e conseguindo dialogar com a sociedade sobre
informações que não chegam até elas pelos meios convencionais, maior será nosso
poder de enfrentamento ao discurso hegemônico.
Incentivar a apropriação do direito à comunicação por grupos invisibilizados pelos grandes meios fazendo com que esses grupos possam produzir suas próprias narrativas é uma estratégia muito importante de enfrentamento ao monopólio.
Incentivar a apropriação do direito à comunicação por grupos invisibilizados pelos grandes meios fazendo com que esses grupos possam produzir suas próprias narrativas é uma estratégia muito importante de enfrentamento ao monopólio.
A luta pela democratização
da comunicação vem fortalecer a prática da comunicação popular e comunitária. A
ASA constrói e fortalece em todos os estados do Semiárido a Rede de
Comunicadores e Comunicadores Populares, um espaço de produção de conteúdo,
discussão política e experimentação de meios alternativos.
É pelas mãos dessa rede
que toma forma os Candeeiros, instrumento de sistematização de experiências que
já contou a história de cerca de duas mil famílias da região, provando que sim
temos muito a dizer ao Brasil e ao mundo.
Fonte: www.aspta.org.br
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