terça-feira, 10 de março de 2015

Conhecimento popular como política pública

Mariana Reis – Asacom; Gravatá | PE; Conjuntura política por Gabriel Fernandes | Foto: Catarina de Angola / Arquivo Asacom

No primeiro dia da Oficina de Planejamento de Execução do Programa Sementes do Semiárido, na segunda-feira (09), em Gravatá (PE), Gabriel Fernandes (AS-PTA/CNAPO) apresentou a conjuntura política sobre a temática.

Entre os principais assuntos, abordou as diferenças entre sementes crioulas e transgênicas, traçando relações com a política nacional de agroecologia. Confira os principais destaques trazidos na fala do especialista:

Sementes como patrimônio genético e cultural: A agricultura tanto pode ignorar os conhecimentos locais (como na monocultura), quanto pode ser uma agricultura adaptada, com as sementes sendo um patrimônio não só genético.

Mas cultural, a partir do ambiente em que foi cultivada. É totalmente diferente da semente da Revolução Verde, que pregava uma agricultura sem conexão com a terra. 

A gente entende semente de uma forma ampla: são as hortaliças, as plantas medicinais, os animais. Precisamos observar a importância de se conservar a diversidade como autonomia. As sementes estão vivas na comunidade porque passam de mão em mão.

Na agricultura familiar, há a livre troca de sementes como base da manutenção da agrobiodiversidade. O agricultor não se considera dono da semente, mas guardião daquela espécie. Diferentemente da empresa, que se vê como proprietária.

Hoje, com a evolução genética, são sete mil espécies de sementes domesticadas e cultivadas. Dessas, só 120 continuam a ser cultivadas de forma sistemática. 

Mas somente 12 espécies formam 90% da alimentação humana atual. Trigo, arroz, milho e batata predominam e evidenciam a pobreza da alimentação. Quem lucra com as sementes transgênicas?

Para conseguir uma semente de boa qualidade, o foco de quem trabalha com sementes transgênicas sai da diversidade para a produtividade. Querem a semente de alta resposta a adubo e irrigação. Uma pesquisa recente comparou a resistência de sementes em transição agroecológica.

Os resultados apontaram que a produção do sistema tradicional foi um pouco maior do que as da transição, mas a pesquisa revelou também que produzir agricultura familiar com a semente agroecológica é mais barato.

A resposta em relação ao clima é um dos desafios colocados. Quem lucra com as sementes transgênicas? As empresas. As empresas lucram com o patrimônio genético e lucram também vendendo a semente transgênica. Conhecimento popular como política pública:

É preciso que esses programas que saíram das comunidades voltem para as comunidades como políticas públicas reconhecidas pelo governo federal. É necessário que a experiência construída a partir da mobilização vira política.

A Política Nacional de Agroecologia (PNAPO) e a Lei de Sementes (lei 10.711/2003) preveem a prática de estoque via casas e bancos de sementes e possibilitam que agricultores familiares multipliquem e comercializem suas sementes.

Nesse sentido, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA Sementes – é visto como um importante avanço: são avanços nos espaços de disputas.

Fonte: http://www.asabrasil.org.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário