Alan Lustosa - Assessor da Cáritas Regional
Nordeste 3; Arte: Iasmin Santana;
No Sertão do Araripe (PE), a família de Vilmar Lermen possa para foto na
cisterna de 52 mil litros que armazena água para produção de alimentos e
criação animal | Foto: Arquivo Asacom
A importância da água para a existência de vidas na Terra não se
discute. O que se pauta é como esse bem natural está sendo utilizado nas mais
diversas atividades humanas. Pela urgência que se tem em assegurar,
diariamente.
A água como direito humano básico, a Organização das Nações Unidas
instituiu o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água. Esta data foi criada em
1992 para que a cada ano seja feita reflexões e debates sobre a diversidade de
temas relacionada à água, este extraordinário bem natural.
De acordo com o relatório “Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil”, de 2013, disponibilizado pela Agência Nacional de Águas – ANA, os recursos hídricos no Brasil apresentam uma condição confortável em termos globais.
Em se tratando da distribuição da água para a população brasileira
percebe-se que há uma desigualdade dos recursos hídricos no território
brasileiro, sendo que a maior parte desses recursos, visivelmente, concentra-se
na região amazônica.
Considerado como a “caixa d’água do Brasil”, o bioma cerrado, rico em biodiversidade, contribui para 8 das 12 regiões hidrográficas brasileiras, a saber: Amazônica, Tocantins-Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, São Francisco.
Considerado como a “caixa d’água do Brasil”, o bioma cerrado, rico em biodiversidade, contribui para 8 das 12 regiões hidrográficas brasileiras, a saber: Amazônica, Tocantins-Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, São Francisco.
Atlântico Leste, Atlântico
Sudeste, Paraná, Paraguai, Uruguai e Atlântico Sul. Nessa região o modelo de
desenvolvimento adotado privilegia os latifundiários e as políticas são
voltadas para o estímulo do desenvolvimento do hidro e agronegócio, uma prática
danosa que agride diariamente as riquezas naturais.
Vários fatores ajudam a compreender porque nos últimos 40 anos ocorreu a exploração do cerrado, reconhecendo-o como fronteira agrícola brasileira. O Estado brasileiro tutela e estimula essa ação com financiamentos, cria infraestrutura como rodovias, ferrovias, porto e, como se não bastasse, “flexibiliza”.
A legislação ambiental proporcionando o avanço do desmatamento que
incide cada vez mais sobre o cerrado. O impacto dessas ações sobre o meio
ambiente é danoso, provocando a morte de diversos rios, riachos e nascentes e,
como consequência, causa o êxodo e expulsa populações que há décadas viviam
harmoniosamente em suas comunidades.
Oposto a esse modelo devastador, as experiências de captação, manejo e utilização de água da chuva para consumo humano e produção de alimentos têm mostrado que, desde 1999, a luta para o acesso à água como direito humano básico necessita ser urgentemente efetivado para que a população, em especial agricultores e agricultoras do semiárido, possa gozar do estado do bem viver.
Essas experiências desenvolvidas pela ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), rede composta por um conjunto de organizações, dentre elas a Cáritas Regional Nordeste 3 - Bahia e Sergipe, juntamente com famílias de milhares de comunidades do semiárido brasileiro, em uma extensão de 969.589km², que inclui os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte.
Parte da Paraíba e Pernambuco, sudeste do Piauí, parte de Alagoas e
Sergipe, região central da Bahia e uma faixa que se estende do norte de Minas
Gerais acompanhando o Rio São Francisco, utilizam metodologias simples,
acessíveis e com eficácia tecnicamente comprovada.
As tecnologias sociais de captação e armazenamento de água têm sido elemento fundante para debater junto às famílias dessas regiões o direito à água, utilizando diversas metodologias como intercâmbios, capacitações em gerenciamento de recursos hídricos e Sistema Simplificado de Manejo de Água para a Produção (SISMA), entre outras metodologias de formação.
Barragem subterrânea, barraginha, tanque de pedra, barreiro trincheira,
cisternas calçadão, cisterna de enxurrada, cisternas de 16 e 52 mil litros de
água são mais que reservatórios, são instrumentos pedagógicos, pois oferecem
condições que levam jovens, mulheres e homens pelos caminhos do conhecimento,
incentivando-os a interagir, tornando-os autônomos de modo que possam conviver
no semiárido.
No momento em que a ausência de água na região sudeste é pautada
nacionalmente como problema no Brasil, as organizações que integram a ASA, ao
longo dos últimos 15 anos, têm feito junto às famílias a gestão das águas
captadas e armazenadas através do P1+2 - Programa Uma Terra e Duas Águas.
Os números são animadores: 83.868 tecnologias instaladas, entre
barragens subterrâneas, barriguinhas, barreiro-trincheira, cisterna calçadão,
cisterna de enxurrada, cisterna escolar (com capacidade de armazenar 52 mil
litros) e tanque de pedra/caldeirão. Por meio do Programa Um Milhão de
Cisternas, soma-se, até agora, 571.293 unidades com capacidade de armazenamento
de 16, 30 e 52 mil litros de água.
Além desses números existem impactos positivos na economia local dos
municípios envolvidos na ação do conjunto da articulação, como a utilização da
mão de obra local e comercialização de diversos materiais usados na edificação
das cisternas e demais tecnologias sociais.
Pensar a água como direito humano passa por negar a lógica de setores privados que visam apenas lucros em detrimento das necessidades humanas. Na região semiárida brasileira registra-se que milhares de crianças e adolescentes ainda não têm acesso à educação pelo fato da inexistência de água nas escolas, principalmente em comunidades rurais.
As ações da Cáritas Regional Nordeste 3 têm uma
dimensão que ultrapassam as construções das tecnologias de captação e
armazenamento de água. Existe uma grandeza, uma mística, que é a despertar
vontades e provocar sentidos. Despertar o poder local, famílias e comunidades
para que de fato entendam que o acesso à água é um direito fundante e sem ela
não há liberdade e nem vidas.
A Cáritas assume para si a dimensão do direito e sempre teve no seu
projeto politico a concepção dos direitos humanos, entendendo que isso passa
pelo direito a terra, à saúde, à cultura, ao trabalho, à moradia, à água... Há
urgência em olhar para as realidades de pessoas que ainda não têm acesso à água
de qualidade e em quantidade.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/
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